Alforje Meu

Tenho o hábito de anotar e marcar nos livros que leio, e são muitos, as cenas, fatos, emoções que me tocam os nervos fortemente e que preciso guardar, revê-los, sempre.

Quando chego ao fim do livro, recolho-os, ou melhor colho-os como flores, para dentro de meus tantos cadernos.

Hoje, ao tentar fazê-lo mais uma vez e sempre, descubro que já não dou conta de tantas flores, não tenho braços para contê-las e sou só emoção, fico atônita… e percebo que já não consigo ou posso guardar tudo, porque de fato, e sem me aperceber disso, guardei-as e continuo guardando em meu pobre coração esganado que dói tanto… sou as tantas emoções e dores dos outros feitas como minhas, uma só sofrida humanidade que em mim lateja.

Descubro, então que sou feita das muitas vidas duras e tristes que esse mundo abriga; por vocação, pendor ou cumplicidade extrema busco avidamente conhecer… sem descanso ou consolo, ou conformação.

Meu coração… um caderno de emoção, esperança, denúncia, dor e tristeza que os dedos do tempo folheiam com indiferença, mas que, espero, sinta quem o ler…

Texto e ilustração de Regina Amorim


Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *


Mais artigos em Mudando de Conversa