À quem estão endereçados os negros pacotes, flectidos no frouxo abraço de qualquer rua?
À quem pertencem as manchas ferruginosas que, assombram teus passos nas calçadas?
A qual realidade impõe-se o olhar dor-espanto-desafio, interrogação alada do ser alijado de sua condição, estufado de vida não exercida, farto dos desejos descosturados de nunca?
De que são feitos os meninos-casulo dependurados como chuva grossa nos fios de tua incoerência?
De que são feitos?
São feitos do que não são e serão para o jamais.
Num inexistente devir, tornar-se-ão insetos pedrentos. Suas longas pernas escuras, hão de ser pontes, estiradas sobre rios de cimento, escarro e pó.
Por elas, atravessarão ainda, vezes tantas, tua indiferença, vigiada do fundo casulo-tempo por descabido olhar – um par de esferas negras, inundadas de vazio.
Texto e ilustração de Regina Amorim
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