Às Compras

A bela senhora de azuis olhos, tal contas a passear memórias no balé do banal cotidiano de minha mobilidade.

A doce experiência do não já ser qualquer coisa de seu, de próprio, de escolha, digital no tempo, a saber-lhe amargo.

– És tão linda! Então, sabias?

Embrulhou-me em constrangida.

– Tão bom estar-se assim sozinha às compras, precisão sem pressa… já não dá… com os filhos, ah estão sempre à pressa… tanta pressa…

– Sei como é… respondi com braços a envolvê-la nas palavras, já eu molhava-me toda no mar daqueles olhos, partilha do impossível até fazer possível alguma liberdade…

Amei-a tanto…

– Um bom dia para a senhora

(quero mesmo que lhe sejam muitos os bons dias)

Que se lhe percebidas sejam asas e que ela voe…

Texto e ilustração de Regina Amorim


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